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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Educação se aprende em casa.

Olá gente.

Desculpem o atraso, estava sem inspiração e meio sem assunto. Mas hoje quando corria pelo parque, lá por volta do quilômetro cinco, vi uma cena que disparou o pensador e destravou os neurônios.

Uma menininha, devia ter lá seus três ou quatro anos, sei lá por que motivo, fazia uma sonora e malcriada birra para sua mãe, próximo ao bar do parque. Até aí, tudo normal, criança faz birra mesmo, todo mundo já passou por isso. Mas uma vez que não conseguiu imediatamente o que queria, a menina passou a literalmente xingar e agredir fisicamente a mãe, que, desculpem a franqueza, qual uma pateta, não esboçava a mínima reação de autoridade. Limitava-se a tentar (sem sucesso) acalmar a criança, com "amorzinho, não faz assim", "fulaninha, não bate na mamãe" (e tome xingamento e tapa e chute). Bom, prossegui a minha corrida, e quando novamente passei pelo bar dou com a citada "anjinha" a degustar um gigantesco sorvete (de chocolate, acho eu, pois era marrom), enquanto a mamãe desesperada e exasperada fazia mil propostas "gulosêimicas" e "brinquedísticas" para tentar convencê-la a ir-se embora.

Enfim, prossegui novamente, e terminei a corrida sem saber o fim da novela, mas o que vi já foi bastante pra imaginar, né? A menininha, para evitar posteriores chiliques, teve todas as suas vontades atendidas e fez exatamente o que queria, com a mãe adequando suas necessidades à conveniência da pirralha. Em última análise, o comportamento escandaloso e inadequado da criança foi premiado pela mãe com um delicioso sorvete. E então eu pergunto: será que essa cena se repetirá no futuro, independente do local, em outra situação em que a criança for contrariada? Não precisa ser vidente pra saber.

A cena em si não tinha nada de extraordinário, na verdade era até bastante cotidiana, aliás, infelizmente cada vez mais comum, vista quase que diariamente nos Shoppings, supermercados, lojas de brinquedos, parques, praças, escolas, casas, enfim, basicamente em todo o lugar frequentado simultaneamente por pais e filhos. Cada vez mais vemos pais apáticos e inertes dominados por pequenos ditadores, que, ao menor sinal de contrariedade, perdem completamente o controle e passam a fazer birra até conseguirem (porque sempre conseguem) o que querem.

Contudo, as possíveis consequencias deste modelo de criação, a longo prazo, é que me deixaram pensativo. Estamos criando uma geração que não sabe lidar com a negativa. E a criança assim criada vai se tornar um adulto que também não sabe lidar com o "não conseguir o que quer", e, portanto, despreparado para o convívio social.

Na minha modesta visão, a falta de limites na infância é um dos principais causadores da desestruturação social que temos observado nos dias de hoje. Pois uma criança sem limites e que  não respeita nem os próprios pais, potencialmente tornar-se-á o adolescente revoltado que agride professor, o jovem viciado que comete delitos e o adulto marginal. Ou, no mínimo, um adulto com dificuldades de convívio e problemas de relacionamento.

Aos que possam achar que estou exagerando, digo que já podemos começar a perceber o reflexo deste modelo de criação nos adultos da sociedade atual. Recentemente ocupei um cargo de chefia em uma instituição, e me surpreendi com a quantidade de funcionários abaixo de 30 anos com problemas em relação à autoridade. Acham realmente que o chefe está lá para adequar-se a suas conveniências, como faziam seus pais. "Como assim não posso emendar dois feriados seguidos (eu tinha deixado um, hein)? Esse chefe é um FDP!" E quando você é mais incisivo (nunca xinguei ninguém, juro, mas era chefe, e, portanto, precisava exigir algumas coisas, às vezes impondo minha autoridade), ficam logo indignados: "Nem meu pai falava assim comigo!!" Pois é, talvez se ele tivesse falado, a gente não precisasse estar tendo essa conversa...

Mas enfim, o que quero dizer, pessoal, é que precisamos reaprender a impor limites e dizer não pros nossos pimpolhos. Como dizia minha mãe, "é de pequenino que se torce o pepino". Não importa o quanto isso corte o coração (porque eles sabem ser fofinhos e persuasivos), é nossa obrigação de pais também ensinar desde pequeninos nossos filhos a lidar com rejeição e autoridade. E isso só se aprende na prática. Não estou falando aqui de castigos físicos ou surras (sou radicalmente contra), mas de reassumirmos nosso papel de educadores para o convívio, com uma postura firme e coerente. Educação se aprende principalmente em casa, não é papel exclusivo da escola. Não é não, e não adianta berrar, nem chutar, nem xingar. É não e pronto, e se continuar, ainda vai ficar de castigo (sim, crianças de 2 e 3 anos já entendem castigos, se quiserem saber mais sobre isso, visitem www.sossseguinho.com.br). Existe uma hierarquia na casa, como existem hierarquias na sociedade, e se você não aprender a respeitá-las, deve saber que enfrentará conseqüências.

Dentro deste contexto, acho que cabe colocar que, ao optarmos por gerar uma criança (isso foi decisão nossa), assumimos automaticamente um compromisso moral de educá-la, e educá-la bem. É nosso dever, nossa obrigação, garantir que a criança tenha atendidas todas as condições necessárias para que se torne um adulto feliz, realizado e um membro produtivo da sociedade. E limites são uma peça fundamental neste quebra-cabeça. Se nos omitirmos com relação a isso, teremos falhado miseravelmente como pais.

Bom, por hoje era isso.
 
Abraços a todos

Um comentário:

Bia Bihari disse...

Excelente!!!!
Partilho da mesmíssima opinião!

O melhor investimento é educar para o mundo, com suas regras, direitos e deveres.
Limite começa em casa junto com respeito, compreensão, cuidado e amor!

Ninguém disse que era fácil educar, e não é mesmo se a gente efetivamente se propôs a tal!