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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Decisões, decisões... - Parte III


Olá gente,

Caramba, a vida tá corrida. Tá difícil arrumar tempo pra “blogar”. Enfim, embora com atraso, vamos ao post.

Estávamos falando sobre a metodologia Waldorf de ensino, e, pra encerrar esse assunto, fiquei “devendo” as minha impressões sobre os resultados que temos observado com a Helena até agora nesta metodologia. Bom gente, só tenho uma palavra para descrevê-los. Excelentes. Realmente, a Rê e eu estamos muito satisfeitos com a escola, e todas as dúvidas que tínhamos hoje estão superadas.

O desenvolvimento da Helena é muito bom, e vemos claramente o papel da escola nisso. Sem corujice nenhuma, Helena hoje é uma criança segura, calma, criativa, articulada, independente (às vezes até demais) e, principalmente, muito feliz. O mundo de fantasia dela é extremamente desenvolvido, ela é capaz de ficar horas brincando apenas utilizando a imaginação. Uma tira de pano vira o cabelo da Rapunzel num piscar de olhos, e lá vai ela jogar suas tranças pela janela da “torre”, à espera do príncipe encantado. Passa o dia a cantar canções, contar histórias pra suas bonecas, dançar ou fazer teatro. Prefere frutas a doces ou massas (juro,ela pede pra comer frutinha!!). Adora ajudar nas tarefas de casa, sempre que lhe é possível. Gosta de desenhos animados, obviamente, como qualquer criança, mas consegue se distrair e “sobreviver” sem eles (kkkk). Não é violenta, e tampouco agressiva, seu temperamento é dócil. Mesmo com as irmãs, consegue controlar seus ciúmes (porque isso todo filho mais velho tem), e sabe dividir e brincar com elas.

Outra coisa. Lembram que falei que me preocupava com a falta de formalismo de conteúdos e com os efeitos disso? Bom, hoje percebo que os conhecimentos que são passados formalmente em outras escolas, Helena também os detém, embora não de forma “padronizada”. Explico. Ela sabe sim, contar até 10, sabe identificar as cores, tem noção de quantidades, de adição e subtração (embora não saiba somar e subtrair formalmente, entende que se de 3 tiramos 1 sobram 2). Ou seja, os conhecimentos estão lá, só que, em vez de aprendê-los decorando, ela os adquiriu ludicamente. Aprendeu a contar em cantigas, aprendeu as cores pintando e desenhando, aprendeu as formas esculpindo e montando blocos, criando, enfim, e relacionando conhecimentos anteriormente adquiridos. E esse é um tipo de conhecimento muito mais solidificado do que algo que foi simplesmente “decorado”.

Em relação à leitura e escrita, observo que, embora, ainda não saiba ler e escrever, Helena tem verdadeira paixão por livros e estórias. Toda noite antes de dormir eu ouço, “Papai, conta uma estória pra mim?”. E ela gosta mesmo é da estória, e não das figuras. Estamos lendo Monteiro Lobato pra ela (que tem 3 anos e meio, lembrem), e ela não só é capaz de compreender o texto (que é difícil até pra crianças de 7 a 10 anos), como também de recontar a estória (à sua própria maneira, claro). Ou seja, as bases para um adolescente/adulto leitor estão estabelecidas. Agora é só questão de aprender o código. E até isso fica mais fácil, uma vez que, quando chegar a hora, aprender a ler e escrever irá tratar-se de algo avidamente desejado, uma vez que representará o passaporte para a independência em relação às estórias, e, portanto, constituir-se-á em tarefa na qual será empregado todo o empenho e vontade.

Mas nem tudo é perfeito, obviamente. Sabem qual o defeito? Dá um trabalho danado pros pais (KKK). Explico:

Primeiro, que hoje tenho uma criança que, embora educada e calma, é extremamente questionadora. A nanica não aceita as coisas passivamente, e precisamos de uma boa dose de argumentação quando lidamos com ela (e isso irrita, às vezes, confesso). Entendam, não quer dizer que ela seja desobediente, pelo contrário, é até bem obediente. Mas é questionadora, ah, isso é? “Porque devo fazer do seu jeito e não do meu?”. “Papai, mas eu quero vestir a camisa rosa, e não essa!”. Se damos uma ordem, ela obedece, mas ainda assim, nem sempre sem questionar os motivos. O que, vamos falar a verdade, é sensacional também. Sim, porque eu, como pai, quero, no futuro, uma filha com capacidade crítica e de raciocínio, e não alguém que simplesmente “vá na onda”. Alguém que tome suas decisões de maneira consciente e baseada em seus próprios princípios, e não simplesmente por que todo mundo faz assim. Alguém que, por exemplo, faça sexo (ou não faça, “pelamordedeus”, não faça, kkkk) com o namorado (ou namorada, isso ela é quem vai decidir, kkkk) porque quer e se sente pronta pra isso, e não simplesmente porque todas as amigas estão fazendo. Alguém que tenha capacidade de olhar o mundo e raciocinar sobre ele, e que saiba o que é melhor pra si, não porque alguém disse na TV, mas sim porque pensou, questionou, se informou e decidiu o que achou melhor, independente de pressões sociais. Alguém que entenda que as escolhas que fizer têm consequências, e que tenha segurança e autoconfiança para bancar essas escolhas, mesmo que sejam as decisões erradas do meu ponto de vista ou do de terceiros. E acho que, neste contexto, a escola que escolhemos é perfeita, pois desde já podemos perceber a sementinha do adulto confiante, seguro, crítico e autocrítico na criança que é a Helena.

Outra coisa é que a metodologia é boa, mas não faz milagre. Pra funcionar direito, a escola e os pais tem que trabalhar em parceria. De nada vai adiantar você matricular seu filho em uma escola Waldorf se você não estiver preparado pra isso. A “tia” Wal, professora da Helena em Cuiabá, falava muito bem disso, e dizia sempre quando conversávamos que “as crianças se adaptam bem sempre, quem não se adapta mesmo são os pais”. Isso porque a metodologia pressupõe um alto nível de participação e comprometimento dos pais também, e temos que estar preparados pra abrir mão de algumas coisas que talvez consideremos importantes, como a nosso “sossego” e nossa necessidade consumista. Assim, não adianta reclamar, que a escola NÃO VAI permitir que seu filho vá pra lá com a mochila do “Ben Dez” ou da “Pucca”, não importa se foi a “avó do bispo” quem deu (kkkk). E caberá a você explicar à avó do bispo (que, convenhamos, nem sempre irá entender isso bem) porque a netinha não está usando a mochila que ela presenteou. Além disso, será preciso manter uma alimentação saudável para a criança em casa, e isso implica em os pais passarem a ter uma dieta mais natural também (pra mim isso é muito difícil, adoro uma “porcaria”, se for chocolate, então, putz!!! Hoje, o que faço, e´comer porcarias na rua, não as tenho mais em casa o tempo todo). Além disso, o contato com a natureza pressupõe que você “levante a bunda do sofá” no fim de semana e vá passar algum tempo no parque, zoológico, sítio, fazenda ou outras extensões de mato equivalentes, não importa se você está com sono ou se lá tem insetos e não tem ar condicionado (hehe). Ah, é, e você tem que estar disposto a abrir mão da televisão também, ou ao menos limitar o tempo gasto com ela, principalmente em relação às crianças. E isso implica em que, ao invés de ver TV, elas terão que fazer outras atividades em casa, e, fatalmente, você terá que estar disponível para as brincadeiras lúdicas com elas. Vai sim ter que “perder” (ou será ganhar?) um tempo desenhando, lendo livros e brincando de teatro (“papai, você é o príncipe, tá, vem subir na minha trança”).

Pra concluir, a mensagem que queria deixar é: A escola do seu filho tem que seguir a linha educacional em que você acredita. Não adianta, escola boa é aquela que o pai acha boa. Mas se você estiver preparado pra experimentar, e entendendo que isso implicará talvez em rever alguns conceitos (como eu mesmo tive que fazer), a metodologia Waldorf é mesmo sensacional, e traz excelentes resultados. Informe-se.

Enfim, era isso.

Abraços

Marlon

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